"Igreja" é uma palavra que não identifica um local ou uma instituição

Acabei de ler o livro "Por que você não quer mais ir à igreja?". O meu exemplar teve um sabor especial, afinal eu o ganhei na divulgação para blogueiros e veio com a bela dedicatória do Pavarini.
Para começar a falar sobre o livro, vou utilizar a campanha publicitária da editora Sextante. Como você pode ver na figura acima, há uma conexão entre "A Cabana" e "Por que você não quer mais ir à igreja?" - além da mesma editora, um dos autores (Wayne Jacobsen) foi colaborador na obra de Wiliiam P. Young.

Obviamente isso cria uma expectativa. E nesta comparação, "A Cabana" sai ganhando... Sua intensidade dramática é muito maior - é a ficção de um pai com uma filha assassinada por um maníaco contra um pastor desiludido com a igreja. E, particularmente, achei "A Cabana" melhor escrito, com um enredo mais trabalhado - "Por que você não quer mais ir à igreja?" é formulado basicamente em cima de longos diálogos, didáticos demais para o meu gosto.
Então, Nani, você não gostou do livro? Pode dar essa impressão nas linhas acima, mas não é verdade. Apenas gostei menos do que "A Cabana" e acho legal que você saiba que as duas obras não são iguais. Agora chega de comparação e vamos aos méritos de "Por que você não quer mais ir à igreja?".

A questão não é onde estamos num determinado momento do fim de semana...
A obra vai tratar justamente do que a maior parte das pessoas gosta no conceito atual de igreja: a instituição. Para quem está dentro de uma igreja tradicional tudo parecerá muito chocante. Como nunca frequentei nenhuma igreja, o conteúdo do livro só consolidou o que eu acreditava. Pode parecer estranho que uma graduada em Teologia como eu não seja membro de uma igreja (e nunca tenha sido, nem na infância - não sei o que rola nas EBDs), mas a única vez que tentei ser parte de uma não deu certo. Não por ser magoada dentro da igreja, como muitas personagens do livro - eu nem dei tempo de isso acontecer. Foi por outro sentimento - também colocado na obra - de me sentir vazia dentro da instituição. Sinto-me muito mais próxima de Deus no nosso bate-papo antes de dormir do que indo a um culto (e eu estudei Liturgia e sei como o culto é importante).

Estou sempre em busca de gente que esteja tentando seguir o Cristo vivo.
Por falar nos meus estudos, posso dizer que já senti a verdadeira vida em comunidade cristã. Mas, Nani, você nunca foi parte da igreja, como pode falar em comunidade? Pois é, mas eu posso.
O livro também aborda a tentativa atual (ou seria mais um modismo?) de seguir a igreja primitiva se reunindo em casas. Eu nunca me reuni em casas, mas eu e meus amigos da Teologia nos reunimos em sala - talvez nossa turma tenha sido uma das poucas "igrejas em salas de aula" do mundo.
Com a mudança de nosso prédio para algo bizarro fora do campus do Mackenzie, passamos a organizar nosso lanche e a fazer as refeições juntos, além de compartilhar nossos sonhos e angústias todas as noites. No sexto semestre, tínhamos vago o horário da primeira aula - havíamos tentado preenchê-lo de todas as formas com planos mirabolantes, mas sem sucesso. Surgiu então a ideia de fazermos o culto em sala. Cantávamos seguidos por um violão, cada um era escalado para pregar e abríamos nossos corações uns para os outros. Eu mesma dei meu testemunho perante meus amigos quando aceitei Jesus em minha vida.
Apesar de nossa organização e de um horário fixo, todo aquele semestre transcorreu muito bem em nossa "igreja em sala de aula".

Depois de experimentarmos a comunhão viva entre fiéis fervorosos, é impossível nos conformarmos com menos.
Foi o que senti ao frequentar uma igreja séria (as malucas eu só entro para pesquisar). Eu ia no horário do culto, cantava os hinos ao som de órgão e ouvia o sermão. A igreja era mais fechada e nunca tentei amizade com ninguém lá. No começo gostei, contudo o fervor se perdeu.
Então comecei a bolar justificativas: eu vou ao culto para aprender sobre Deus, mas sinceramente não ouvi nada que eu já não tivesse aprendido na faculdade (não porque a faculdade de Teologia ensine tudo ou porque o pastor não era bem preparado - a questão é que as pessoas parecem gostar de ouvir sempre a mesma coisa e é difícil lançar algo novo a cada domingo). Bom, então eu vou à igreja para louvar - só que eu nunca gostei de música religiosa e tenho dificuldades em me entregar a este tipo de celebração; cantava porque todo mundo estava cantando e não porque sentia isso no meu coração. Então eu pensei que estava sendo hipócrita, que estava tentando fazer parte de uma comunidade porque eu acha que deveria fazer isso, por ser cristã e estudar Teologia. Aí deixei de ir à igreja.
Ah, mas não pense que troquei a igreja convencional pela "igreja em sala de aula". Ela não durou mais do que um semestre. Como o livro retrata, quando queremos organizar demais, a coisa desanda. Um ano depois, tínhamos o horário vago da primeira aula novamente. Estávamos no nosso último semestre, com o trabalho de conclusão nas nossas costas e sem nenhuma vontade de fazermos um culto. Apenas uma reunião aconteceu e deixamos a ideia de lado. Ficamos simplesmente contentes por estarmos juntos em Cristo...

Hoje não precisamos mais ficar falando sobre a Igreja. Precisamos é de gente preparada para viver a realidade dela.
Acho que este é um dos grandes trunfos do livro - instigar as pessoas a verem relacionamentos e não atividades. Instigar a ver amor e não obrigação. Instigar a ver Jesus e não um prédio.
Como bem nos ensinam as igrejas do livro de Apocalipse, nenhuma igreja em particular sobrevive ao tempo. Apenas a Igreja verdadeira (essa com I maiúsculo) permanece, porque é formada por pessoas dentro e fora de instituições. Não é errado estar em uma igreja tradicional, assim como não é errado estar fora dela. O que importa é estar em Cristo, onde você estiver.

O título e os subtítulos deste artigo foram retirados do anexo de "Por que você não quer mais ir à igreja?".

Elaine Rezende, no blog Nani e a Teologia

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